domingo, 27 de julho de 2008

Dercy Gonçalvez, a irreverência imortal

[ Sei que já faz alguns dias que ocorreu este fato, mas voltando ao mundo blogueiro, não pude deixar de falar sobre. ]


Sábado passado, (19), por volta das 16hs e alguns minutos, foi noticiado o falecimento de Dercy Gonçalvez, vítima de pneumonia. Aos 101 anos, com o velório e enterro feito conforme seu pedido, inclusive no sambódromo ao som da bateria da Viradouro, sua escola e a qual fez parte por um tempo.

Há quem gostasse, discordasse, idolatrasse, detestasse ou sei lá mais o que ‘asse’ à ex-vedete. Particularmente, gostava dela sim. Sua irreverência me surpreendia, principalmente, por se tratar de dar a tapa a cara independente do que alguém lhe dissesse. Só sei que de fato, não pensei que chegaria um dia a publicar a sua ida para o outro plano da vida.

Marcada pela infância desprovida de quaisquer lembranças boas, pois fora abandonada por sua mãe quando pequena e por parte de seu pai sofria drásticas violências; pior que isso, sofreu muito por ter sofrido tentativa de estupro e isso a fez desprezar totalmente qualquer tipo de relacionamento com um homem. Sempre constava em suas entrevistas que nunca amou homem nenhum. Saiu com alguns, mas jamais algo mais. Visto que, um deles lhe deu algo precioso: uma filha.

Conseguiu ter sua própria vida retratada nos palcos e passando sempre que possível, suas experiências adquiridas decorrentes de sua existência, para quem sabe assim, amenizar algumas marcas e poder transformá-las em algo bom para quem quer fosse que tivesse o privilégio de desfrutar de sua companhia ou assisti-la.

Confesso que, não gostava muito quando presenciava o alvoroço provocado pelo desenfreado grupo de jornalistas que viviam querendo fazer com que ela soltasse os altos palavrões seguidos de gargalhadas coletivas. Humor vulgar não tem graça. O natural é bem mais proveitoso. E de naturalidade, Dercy entendia bem, tanto que tirava de letra algumas situações. Com ou sem seus termos originais [leia-se palavrão mesmo] Aplausos em pé, de preferência.

Por fim, sentimento de compaixão e reflexão foi o que me invadiu a alma na hora. Partir com a lucidez ativa, é raridade das extremas. Quem me dera atingir o limite da vivência com um século permanentemente lúcido. Agora, eu só sei que sua irreverência continuará imortal, onde quer que estejas. Afinal, ninguém substitui ninguém.
Fique em paz!

2 comentários:

Raquel disse...

Ah, eu lamentei a morte da Dercy, sim! Apesar de ser super previsível, visto que ela contava 102 anos (o registro dela estava errado, contando 101, a fonte é a própria Dercy).
Não quero viver mais de um século, nem me será permitido, levando em conta meus hábitos e a qualidade de vida atual. A minha admiração a ela não é quanto à longevidade, mas sim quanto ao estilo de vida irreverente dela.
Dercy é a prova de que se vive muito melhor livre de paradigmas.

Foi uma bela passagem, sem dúvidas.

Claro que lembro de ti, menina!
Estás "linkada", e bom retorno!

Anônimo disse...

Um ícone que deve ser seguido não pela vulgaridade de lidar com os fatos, mas pela irreverência única de ser simplesmente como qualquer outra senhora de idade gostaria de ter sido.

Imortal!